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Farmácia e clínica no mesmo lugar e na esquina de casa?

Pode parecer sonho, mas esse é o novo modelo de loja que as redes de drogarias se preparam para instalar no Brasil
Imagine que na esquina da rua onde você mora há uma farmácia. Nela, você não só compraria remédios, mas faria exames de colesterol e glicemia, levaria as crianças para tomar vacina e até manteria seus exames preventivos em dia.
Esse cenário parece um sonho não só para quem já esperou horas na fila de um hospital, mas, também, para os 62% dos brasileiros que, segundo o Ibope, consideram os sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados, o maior problema a ser resolvido no país.
Em breve este sonho poderá ganhar contornos de realidade, na expectativa dos representantes das maiores redes de farmácias do país.
Nesta semana, estes empresários se reúnem em São Paulo na segunda edição do Abrafarma Future Trends, evento com objetivo de traçar tendências e oportunidades para o varejo do setor farmacêutico.
Até pouco tempo atrás, as farmácias cheiravam a éter – o único tipo de produto era o remédio, e o local era invariavelmente associado a doenças.
Hoje, as principais redes varejistas mundiais preferem associar a loja a bem-estar e beleza e, no Brasil, não é diferente.
Agora, a prestação de serviços também deverá compor o portfólio, com a realização de exames e vacinação. O último avanço neste sentido foi no ano passado, quando a lei 13.021 autorizou o farmacêutico a acompanhar o tratamento do paciente e a aplicar vacinas – ainda falta a regulamentação Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que deverá detalhar o funcionamento desses serviços.
O que as redes de farmácias querem fazer no Brasil é o que já existe há pelo menos uma década nos Estados Unidos e na Europa. “A tendência é a oferta de mais serviços, como miniclínicas dentro das drogarias”, afirma Modesto Carvalho de Araujo Neto, diretor-presidente da Drogaria Araujo.
Com 150 lojas em Minas Gerais, a Araujo foi pioneira na prestação de serviços médicos. Como ainda não pode ter as próprias clínicas, a rede fechou uma parceria com a Vacsin, especializada em análises laboratoriais, para oferecer exames de sangue e aplicação de vacinas. Das 150 lojas que compõem a rede, 20 já oferecem o serviço em espaços anexos às lojas.
“Queremos ampliar esse serviço e ter a nossa própria clínica dentro da farmácia”, afirma Araújo Neto. O faturamento da rede alcança R$ 1,5 bilhão por ano e metade desse montante vem dos serviços prestados e da venda de produtos que não são medicamentos, como perfumaria e produtos de conveniência.
Com 800 lojas, a Pague Menos também já trabalha com as miniclínicas em 120 unidades da rede. “Terminaremos o ano com 250 e, até 2017, queremos ter clínicas em todas as 1.000 lojas que pretendemos ter no país.
Nós acreditamos que a farmácia pode ser protagonista em soluções de saúde publica. Trabalhamos para melhorar o acesso da população aos medicamentos e à saúde”, afirma Deusmar Queiróz, presidente da rede.

PAULO DE TASSO, DA PERMANENTE
Paulo de Tasso A. Sousa, dono da rede Permanente, com 75 lojas em 23 cidades de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, diz que, em lojas localizadas no interior, os farmacêuticos já estão preparados para fazer um atendimento para casos simples, como dor de cabeça e gripe.
“Ainda não temos clínicas, mas as nossas lojas já estão sendo inauguradas com espaços para isso”, diz ele. A rede Permanente tem planos de encerrar 2015 com 80 lojas e, no próximo ano, entrar no mercado baiano. “Na Itália, as farmácias chegam a fazer até 25 tipos diferentes de exames de laboratório. Quando o cliente tem um mal estar, uma gripe ou uma dor de ouvido, poderá ser atendido em uma farmácia aqui no Brasil, claro, desde que o farmacêutico seja qualificado”, diz Nelson Barrizzelli, consultor de varejo.
CONSUMIDOR APROVA
A dúvida é se o brasileiro se acostumaria a confiar sua saúde à uma farmácia, em vez dos hospitais e clínicas mais robustas. Ao que parece, segundo a pesquisa do Ibope Inteligência, o brasileiro gosta dessa novidade. 51% da população de classes B e C, entrevistadas pela pesquisa, diz que faria exames preventivos nas farmácias – 48% aceitariam um programa para largar o cigarro, 43% concordariam em receber vacinas nas unidades e 41% ficaria a vontade para acompanhar tratamento médico com um farmacêutico.
A pesquisa também identificou que 53% das pessoas não são rigorosas nos seus tratamentos médicos porque esquecem de tomar suas medicações (31%) ou porque simplesmente desistem do tratamento (22%). O alto custo dos remédios e a dificuldade de marcar exames e retorno no médico são os principais motivadores do abandono.
Para os empresários, o novo trabalho dos farmacêuticos pode ajudar muito os consumidores. “Os resultados da pesquisa respaldam as propostas que os varejistas têm para o avanço das farmácias. A população quer mais serviços”, afirma Márcia Cavallari Nunes, CEO da empresa Ibope Inteligência.
As redes de farmácias, por sua vez, têm todo o interesse na implementação desses serviços, já que estes melhorariam a rentabilidade das lojas – até porque, os medicamentos continuam com preços controlados no Brasil.
CRISE? QUE CRISE?
Atualmente, a crise econômica é pauta de todo o tipo de conversa – do botequim ao Planalto. No entanto, para o setor de varejo farmacêutico, essa não é uma questão.
O assunto não fez parte do primeiro dia do evento da Abrafarma. As empresas que abrem seus números mostram estar se saindo muito bem, mesmo com o cenário conturbado.
Nos últimos 12 meses terminados em junho, as vendas das 28 redes ligadas à associação somaram cerca de R$ 34 bilhões, 12% mais do que no período imediatamente anterior. No primeiro semestre deste ano, o faturamento dessas mesmas empresas subiu 17%, na comparação com igual período do ano passado.
De janeiro até agora, a rede Permanente já acumulou alta de 15% no faturamento, na comparação com igual período do ano passado. Tasso Sousa, dono da empresa, lembra que o setor é menos vulnerável à retração econômica.
“Ninguém vai tomar mais de um comprimido porque a economia está bombando. Posso dizer que, em 25 anos, se tive queda nas vendas é porque fiz alguma coisa errada para não crescer no ritmo do mercado”, diz ele.
Nelson Barrizzelli lembra que remédio é uma necessidade básica e que, possivelmente, "as grandes redes estão crescendo porque estão tirando clientes de redes pequenas e de farmácias independentes”, diz.
Para ele, os pequenos donos de farmácias serão obrigados a seguir o modelo das grandes redes, isto é, prestar cada vez mais serviços para os clientes. “Se não, vão morrer, não há dúvida”, diz o consultor.
A farmácia do futuro também estará muito mais atenta às novas tecnologias. O consumidor quer, assim como numa loja de roupas ou calçados, ter experiências que o agradem e que o façam voltar novamente para a loja.
A Vip-Systems apresentou, durante o evento, tecnologias para controle de estoques, prevenção de perdas e roubos e até a oferta de experiências de compra para o cliente, o que é possível por meio de etiquetas de identificação por rádio frequência (RFID) nos produtos.
É essa etiqueta que proverá uma outra grande vantagem para consumidor, o self check out. O cliente escolhe os produtos, coloca todos eles numa cesta e, em segundos, todos os preços são listados e a conta fechada. Depois, é só inserir o cartão e efetuar a compra – sem caixa, nem vendedor.
“Isso faz parte do conceito da farmácia tecnológica, o que ela pode ter se quiser se diferenciar”, diz Fabián Romano, CEO da Vip-System. Se depender do ânimo dos donos das grandes redes, toda essa tecnologia chega em breve às farmácias – até àquela na esquina da sua casa.

Data de Publicação
10/09/15
Fonte
Diário do Comércio

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